Numa Toca encantada,
no Pântano da Desolação,
Nas primeiras chuvas de
Março,
Um estranho casal sondava os astros.
A Águia e o Leão.
A hora estava próxima...
Os movimentos já quase haviam cessado,
O destino já se contraia em compulsões -
os sinais já eram vistos, dos que haviam sido previstos.
E muitos outros viriam. Eles sabiam...
Nada tinha dado certo do que havia sido desejado para ser.
O destino, esse bárbaro, tomou a si as rédeas da situação e teceu sua teia de terror e medo,
Mas um Leão e uma Águia não se rendem facilmente.
Ele, na solidão de si, tudo fez, em sua ausência. Essa parte ninguém viu. Não há relatos nem testemunhas,
Ele a colocou em segurança - nas asas do destino.
Ela,
na solidão em si, apagou seu brilho, recolheu as asas e deixou-se
capturar
num sono sem sonhos, feito de escuridão e contrações de luz;
Entregou-se aos captores e elevou aos céus
seu mais pungente grito-lamento.
O destino uniu-se ao tempo.
Na intersecção dessa união o filhote viu sua última e derradeira oportunidade
e soube aproveita-la magistralmente -
num movimento único de cabeça,
como quem cabeceia a bola diante do gol e encobre o goleiro,
ele moveu o destino, driblou o tempo e esperou...
Foi o suficiente.
A aceitação, a renúncia e a silenciosa luta trouxeram ao mundo o Urso, pardo.
Separados eles estavam. Separados eles permaneceram.
Seus encontros foram sempre nos intervalos, nos momentos de intersecção e nas interseções entre o tempo e o destino.
O Leão, a Águia e o Urso acostumaram-se a falar em silêncio,
Numa linguagem de sentires e fazeres.
Viveram no pântano, na selva, nos andes - criaram para si uma high-way,
tão estranha como estranha era essa conjunção familiar afinal
Um Urso, um Leão e uma Águia são quase uma impossibilidade ecológica!
Mas quem um dia irá dizer que não existe razão nas coisas feitas com o coração?
Quem irá dizer?
O mundo lá fora continuou a girar. A Roda da Fortuna a se mover. O tempo a correr e se atropelar,
bomba nuclear, explosões atômicas, teste e muitas, muitas rolling stones...
Na Toca encantada o filhote crescia seguro, vivo e em silêncio;
e aprendia: sensível, rápida e silenciosamente.
O tempo passou. Um ciclo se fechou. O filhote estava pronto.
Forte e resoluto. Centrado e em paz.
A iniciação da infância chegou. Ainda no pântano, na selva.
A
poeira das estrelas trouxe a ele uma alma irmã. Foram meses e
incontáveis horas, minutos e segundos buscando a si e ao outro. E ele
chegou e foi aceito.
A iniciação completou-se.
Um Trevo de quatro folhas, Andarilho das estrelas era agora a quarta parte daquela mais estranha ainda constelação familiar.
Mas o destino, essa bárbaro, já tinha suas artimanhas
e ele acelerou o tempo. E tudo passou rápido demais, congestionado demais,
superficial demais.
Outro ciclo se fechou e eles alçaram voo. E a Toca encantada mudou-se com eles -
como Sambhala faz, de tempos em tempos.
Escondidos no seio da Natureza eles puderam descansar e curar as marcas que o destino, esse bárbaro, deixara cravadas neles.
O menino-Trevo cresceu no mato. O Urso adolescentou-se. O Leão se refez e a Águia...
sobrevoava silenciosamente sobre paragens e destinos.
Mas ursos, ursos pardos ou polares,
são lobos solitários
e um dia esse tinha que partir.
E partiu.
Corações partidos
não são bons conselheiros
nem bons Guardiões...
Então, o menino-Urso foi elevado à condição de adulto.
O menino-Trevo compartilhou remédios.
Remédios das estrelas para feridas não serem lambidas,
para corações não sangrarem
e para o não esquecimento de
que as primeiras coisas vem em primeiro lugar.
O Urso, O Leão, a Águia e O Trevo!
Quem diria.... sobrevivem até hoje!
E hoje,
hoje é aniversário do Urso, batizado MuUrso por si mesmo,
numa auto iniciação secreta, secretíssima.
Sem ouvintes e sem testemunhas,
na selva onde ele vive até hoje.
A Águia pousou. O Leão pousou. O Trevo criou raízes. O Urso formou-se xamã de si mesmo.
No tempo etéreo, no cume da Montanha Sagrada,
donde se avista toda a savana,
um Leão ergue em seus braços um MuUrso
e mais uma vez o apresenta ao mundo
no seu leonino falar silencioso ele murmura:
- Todos os Deuses te saúdam Filho do meu coração!
Um arco íris circunda as terras de África. Um arco íris engloba a savana, a selva, o pântano, os andes.
Todos os deuses o reconhecem e nele reconhecem todos os meninos-ursos.
*
Longe é um lugar que ainda existe e como só se faz bem o que se faz com
o coração esse bardo agora canaliza uma mensagem e uma visão,
interrompendo tão singular história:
"A Toca encantada envia um Salve!
Salve Muiambo! Salve Oxumarê!
Salve Ogum e Salve Oxóssi!
Salve Ossanha!
Salve Mulambão!
Um Leão, uma Águia.
Um menino-Urso.
Um menino-Trevo.
Uma Oliveira Sagrada em solo sagrado.
O Conselho ancião reunido.
Duas crianças-Cristais. Dois diamantes sagrados.
Outra mensagem:
"Houston!
Hoje a cerveja quente é por minha conta
em Reai$, Sou Eu quem paga!
em bit$, manda pras estrelas;
em K$, ah! esse K.! Marca aee que a gente acerta logo menos.
Que haja samba no Barracão do Samba!
Logo menos a gente se vê filhãoMurUso!"
Estranha mensagem, numa estranha criptografia de uma estranha constelação estela-familiar.
Mas só sei que foi assim...
so far, far away um Urso nasceu, cresceu belo e vistoso,
tornou-se em MurUrso e hoje comemora-se seu aniversário.
As luzes da boate acesas me trouxeram recordação
estas fizeram-se pedir ao garçom papel
de pão de padaria ou uma seda de cachorro quente
e escrever essa contação de estória ursística mulambesca.
Digo estória por que é vida e vivência de bicho
se fosse vida e vivência de gentes seria História.
E os anéis da fumaça que sobe me fizeram lembrar
desse um tudo
que me contara um dia
o irmão do Urso,
as time goes by.
Esse bardo, neófito na canalização de mensagens
as recebe num sentir
então se perde o remetente
mas não se perde a certeza, guardada no coração
que ao MurUso elas serão entregues
de um jeito e de outro, não.
"Mil cairão à sua direita. Mais mil se erguerão à sua esquerda. Mas se a base é boa a música se sustenta."
"Aloha! Fumaça de maçã, sálvia e alecrim para alegrar a noite e defumar o abadá!"
"E
você que é Índigo, tornado Cristal,
na mais pura impossibilidade de ser
puro Índigo,
receba: Skywalker são todos. Todos os que vivem o sonho de
sair na última astronave."
"E a sua pequena Eva vos diz que além do infinito que nos dá
há forças pra viver"
"E voando bem alto - Eva!"
Essa bardo se despede.
Não há como terminar essa H.estória...
É
uma história-sem-fim contada desde remotos tempos
em que bardos
surgiram nas terras da Cornualha e reapareceram nas Terras Médias,
longe da medições do tempo.
"Garçom, a conta! a segunda de hoje, nesse dia que maul começou.!"
"Você hoje faz anos por que Deus assim quis
2+ 9 = 11
Eu confirmo o que cê quis."
Eu sou Athena, a bardo,
e contei essa História,
aqui nas Terras Médias;
Sobre meninos e ursos e trevos e leões.
E sobre águias e poeiras estelares.
Quem souber que conte outra...
Pois assim já foi escrito:
"lendas se contarão a seu respeito
e ao buscar separar o joio do trigo,
o real do verdadeiro,
os homens viverão dias de guerra e dias de paz,
mas tu, tu permanecerás."
A Toca, 06 de Março de 2.015DC
Tatuí, São Paulo